segunda-feira, 30 de novembro de 2009


Formar músculos a partir de que idade?

Atividade monitorada: o jovem entra na fase de maturação biológica a partir dos 14, 15 anos, como é o caso de Serginho Girão
Em forma: Serginho, 14 anos, pega peso e ganha massa muscular com a orientação de um personal trainer Foto: KID JÚNIOR
29/11/2009
Crianças e jovens devem receber orientação correta para atividades físicas regularesA questão não tem uma resposta simples, uma vez que a oferta nas academias são numerosas. Então, qual seria a atividade mais indicada para crianças e jovens? As crianças podem fazer musculação?Como o sedentarismo tornou-se epidêmico, com o contraponto de pessoas que praticam exercícios físicos de forma extenuante, é importante que os pais estejam alertas também para os excessos, não deixando seus filhos à mercê de influências de culto ao corpo, com riscos à saúde.Os problemas que envolvem algumas práticas físicas são as falsas ideias propagadas que se transformam em mitos, observa o educador físico Humberto Barroso da Fonseca. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a musculação era só para jovens que desejavam esculpir seus corpos com músculos.Hoje, a musculação orientada (ou trabalho de força) é indicada para várias idades, inclusive para idosos. No caso das crianças, há restrições com a atividade que não receba suporte de um médico do esporte e também de um educador físico.O exemplo dos empresários, Celeste Marques Girão e José Euclides Portela Neto, se enquadra bem no que Humberto diz. O casal se via diante do problema da balança, aqui incluído também seus dois filhos mais velhos. Para evitar que a obesidade se instalasse em sua casa, Euclides deu o pontapé inicial e passou a fazer exercícios orientados pelo profissional.Na sequência, conta Celeste, ela aderiu à atividade física e a filha de nove anos passou a fazer dança (hip hop). Por fim, chegou a vez do filho mais velho, então com 12 anos, de ser estimulado a largar um pouco o computador, o videogame, a TV e se mexer.ContabilizarO mais complicado de toda alteração de hábito é a decisão, por isso esta atitude já representa 50% do caminho, que se faz passo a passo. No caso de José Sérgio Girão Portela, hoje com 14 anos, o empurrãozinho foi dado por seus pais, Euclides e Celeste, com o suporte do personal trainer Humberto Fonseca.A princípio, Serginho - como é chamado - não foi obrigado a tirar algo da alimentação. A atividade física era sugerida pelo educador físico que, segundo Celeste, funcionou para todos da família como um verdadeiro terapeuta.Com quase dois anos de atividade monitorada, Serginho recuperou totalmente sua forma, cresceu e se voltou bastante para os esportes. Pratica com regularidade musculação, sempre com seu personal ao lado, além de jogar basquete e tênis. E, como prêmio, ganhou dos pais aulas de bateria, que ele adora.O grande problema das pessoas terem dificuldade em tomar a decisão de mudar é estabelecer uma contabilidade inversa. Ou seja, contabilizam as perdas (dos alimentos que acham saborosos e da acomodação e conforto para não saírem de casa)ao invés de computarem os ganhos à saúde e qualidade de vida, exatamente o que motivou a princípio o empresário Euclides e sua esposa.Com um filho de nove anos, o médico Marcus Strozberg, especialista em Medicina Esportiva, afirma que de forma alguma o encaminharia tão novo a uma academia. Neste ambiente, segundo ele, não estão as pessoas mais adequadas a influenciar o garoto, tampouco ele tem ainda o discernimento para saber o que acolher ou rejeitar.O ambiente ideal para uma criança praticar seus movimentos é aquele onde estão outras crianças. Não tem sentido, segundo Strozberg, colocar uma criança junto a um grupo de idosos em uma aula de hidroginástica, argumenta.O educador físico, conselheiro do Conselho Regional de Educação Física (CREF-5), Humberto Barroso, revela que o grande problema de atividades em academia - como a prática da musculação, por exemplo - é as pessoas se voltarem apenas à preocupação estética e ao culto da beleza e da forma. E, nesta ânsia, acabam por esquecer que já não estamos mais na denominada "era de Apolo".Cedo demais, não!"O que precisamos questionar é qual a motivação dos pais (como no caso de algumas crianças bem pequenas que aparecem com músculos delineados, na internet) para conduzirem seus filhos ao treinamento tão cedo", diz o educador físico. Pondera, por outro lado, que muitos pais creem que sua escolha é acertada quando estimulam seus herdeiros de sete, oito anos a praticarem judô, embora nem imaginem que os pequenos levantarão outra criança de 30 quilos, o que para eles já é também uma sobrecarga, capaz de causar prejuízos à sua estrutura presente e futura.As crianças não devem também ser estimuladas cedo demais aos esportes competitivos, avisa Humberto. Dentre tantas, ele se refere à prática do basquete, cujo mito é que esse esporte leva seus praticantes, precocemente, a crescerem mais do que a média das pessoas."Na realidade, o que ocorre é que cada esporte seleciona o atleta com o biotipo adequado para seus movimentos e manobras. Portanto, os garotos mais altos são sempre eleitos para os times de basquete e vôlei", sinaliza.Todo esporte contribui muito para o desenvolvimento físico do praticante, desde que bem acompanhado e orientado. Humberto costuma dizer que a prática física é bastante similar à dosagem de medicamento, pois o mesmo que pode curar, em altas dosagens, poderá prejudicar.Pensar na atividade física sempre de acordo com as próprias necessidades do indivíduo é o mais indicado, mesmo porque, após a avaliação física, a criança, o jovem, o adulto e, também o idoso, devem se tornar responsáveis por aquilo que abraçam praticar com satisfação e sabedoria.Dr. Marcus Strozberg acrescenta, às palavras do educador físico, o fato de alguns esportes exigirem, de fato, que o atleta ou desportista tenha uma meta a ser alcançada. Por isso, eles almejam uma alta performance. O que jamais deve ser exigido de crianças e idosos, pelo contrário, para estes, quanto mais prazerosa for a prática, mais fácil e satisfatória será sua continuidade pelos praticantes.O objetivo é criar hábitos saudáveis, que só podem ser mantidos com estímulo. Estudo recente revela que crianças de até 12 anos com um dos pais ativo, têm 30% de chances de se modelar em seu genitor. Com os dois pais ativos, esse percentual cresce para 70%".Atitude"Crianças e adolescentes que fazem exercícios devem ser supervisionados por um educador físico"Dr. Marcus StrozbergMédico do esporte"Pesquisas revelam que os pais não levam a sério a obesidade e inércia dos filhos"Humberto da FonsecaEducador físicoENTREVISTA - Dr. Marcus StrozbergJogos lúdicos e brincadeiras são para as crianças e os esportes para os jovensA partir de que idade é indicado praticar musculação?Esta questão é muito controversa. De fato, não há uma regra geral, embora costumamos dizer que a liberação para as atividades de força devam ocorrer assim que o jovem entra na maturação biológica (por volta dos 14, 15 anos). Isto é distinto para cada um dos sexos e depende da constituição familiar.Uma criança pode pegar peso?As atividades na infância devem ser mais as lúdicas e leves possíveis, com brincadeiras.O que os pais devem fazer?As crianças e os jovens hoje passam muito tempo parados diante da TV, computador e videogame; eles precisam estar mais ativos. A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte recomenda que a escolha da atividade seja a mais satisfatória, de forma a tornar possível se manter ativo a vida inteira.Estar em academia é bom?As academias não estão preparadas para receberem crianças, portanto, como o ambiente é muito diverso, disperso e com objetivos distintos, não vejo como um ambiente para crianças.Médico, especialista em Medicina Esportiva e-mail: strozbergmedsport@uol.com.br

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