Pernambucana faz cordel para defender o forró e ironizar o sertanejo no São João"Se quiser ouvir Marília/ No mesmo tom da sofrência/ É comprar com antecedência / Villa Mix de Brasília", diz uma das estrofes

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco
Publicado em: 15/06/2017 08:01 Atualizado em: 14/06/2017 22:29
 Mariana é filha do repentista Valdir Teles, de São José do Egito, e já lançou o livro O novo mar de poesia (2015). Foto: Facebook/Reprodução
Mariana é filha do repentista Valdir Teles, de São José do Egito, e já lançou o livro O novo mar de poesia (2015). Foto: Facebook/Reprodução

A campanha "Devolva Meu São João", encabeçada por artistas, músicos e sanfoneiros nordestinos, foi mote para a poeta e advogada pernambucana Mariana Teles, que aborda o tema com versos e rimas. Na poesia de cordel, Mariana reforça a reinvidicação de artistas que alegam ter perdido espaço nas grades dos festejos juninos para os cantores do sertanejo e ainda denuncia a descaracterização do São João na região.  

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

"Se quiser ouvir Marília/ No mesmo tom da sofrência/ É comprar com antecedência / Villa Mix de Brasília... / Mas no São João tem família / Que não desce até o chão / Vai pra ouvir Assisão", diz um trecho.   
A poeta nasceu em Tuparetama, no Sertão do Pajeú, mas mudou para o Recife. Mariana é filha do repentista Valdir Teles, de São José do Egito, e já lançou o livro O novo mar de poesia(2015). 

"Sou apologista do Nordeste e admiradora das artes. Em relação a essa polêmica, acredito que é preciso uma janela mais democrática na construção de festas que atendam os novos públicos, mas não deixe os artistas que militam o ano inteiro pela causa de fora", comenta. "Tem que ter nomes mais conhecidos, mas dando prioridade aos que carregam a bandeira do forró e da tradiçãoo junina", completa.  

Confira a poesia de Mariana Teles:

Não é contra o sertanejo,
Maiara nem Maraísa
Mas no São João precisa
Tocar "lembrança de um beijo",
É contra a máfia que eu vejo
Ganhando licitação,
Usurpando a tradição, 
Vendendo a identidade 
Pelo forró de verdade,
"Devolva meu São João"

Imaginem Salvador
Pátria do axé brasileiro,
Colocando um violeiro
Num trio do parador,
Leo Santana e um cantador
Dividindo a percussão 
Vila Nova num cordão,
Sem tocar mais Preta Gil
Pelos ritmos do Brasil,
"Devolva meu São João"

Cultura é identidade!
É patrimônio de um povo,
E nenhum sucesso novo
Compra originalidade.
Não discuto a qualidade 
Mas discuto a tradição,
Quem quiser ouvir modão,
Ou a Festa da Patroa,
Vá pra terra da garoa.
"Devolva meu São João"

Se quiser ouvir Marília 
No mesmo tom da sofrência,
É comprar com antecedência 
Villa Mix de Brasília...
Mas no São João tem família,
Que não desce até o chão 
Vai pra ouvir Assisão,
Forró sem som de "breguismo"
Não dê lucro pra o modismo.
"Devolva meu São João"

Pela pátria nordestina!
Pelas nossas tradições!
Vamos romper os cordões 
De camarote em Campina,
São João é na concertina,
Não se divide em cordão 
Para quê segregação 
Numa festa popular?
Ninguém pode separar!
"Devolva meu São João"

E as próximas gerações,
O que irão conhecer?
Irão "curtir e beber"
Como ensina esses modões?
Que será das tradições,
Com o som de apelação?!
De Wesley Safadão
Que o forró não promove
É brega noventa e nove...
Só um por cento é São João

ENTENDA O CASO
Durante a abertura oficial do ciclo junino da cidade de Caruaru, no dia 3 de junho, a cantora Elba Ramalho, um dos ícones do São João nordestino, criticou a programação de Campina Grande, na Paraíba, e reclamou do espaço tomado por artistas da música sertaneja nas grades juninas. 

"Falei com a Paraíba, reivindiquei porque o São João de lá está muito mais comprometido que o São João daqui. Eu não tenho nada contra nenhum artista, nada contra nenhum sertanejo. Tem espaço para tudo, no céu cabem para todos os artistas, ninguém atropela ninguém. Porém eu não toco na Festa de Barretos, Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, é dos sertanejos, e eles têm bem esta coisa: essa área é nossa", disse ela, pouco antes de apresentação na Capital do Forró.

"Aí quando chega aqui no São João, em Campina Grande, não ter o Biliu de Campina, não ter Alcymar Monteiro, eu reclamei bastante, cara, não ter os trios. Quando chega o São João, se você não tem forró... Eu não quero ir a uma festa que não tenha forró", comparou, em apoio a campanha Devolva Nosso São João, encabeçada por Joquinha Gonzaga, sobrinho de Gonzagão, e Chambinho do Acordeon,conhecido nacionalmente após interpretar o Rei do Baião no filme Gonzaga: De pai para filho, de Breno Silveira.

Nas redes sociais, a manifestação conta com adesão de cantores, compositores e instrumentistas de vários estados do Nordeste. Eles compartilham textos, vídeos e imagens com os dizeres "Devolvam o nosso São João", "São João é do Nordeste" e "São João só é grande quando tem forró", entre outros. As declarações da artista paraibana, amplamente identificada com Pernambuco, tiveram grande repercussão e provocaram respostas da prefeitura campinense e de jornalistas do estado da Paraíba.

No fim de semana passado, nos bastidores da apresentação no São João da Capitá, Marilia Mendonça rebateu as críticas e negou que as portas de Barretos (Festa do Peão) e outros festivais estejam fechadas ao forró: "Isso é mentira. Talvez a porta não esteja aberta porque algo está fora do seu trabalho. Quem tá com trabalho legal tem portas abertas em todas as regiões do Brasil. O segredo é música boa. Não tem nada de um tomar o lugar do outro". No palco, a cantora defendeu que "vai ter sertanejo no São João, sim".

Confira as falas de Elba, Marília Mendonça e Alcymar:






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