Diário vence Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e
Direitos Humanos
Pela primeira vez, um meio de comunicação
cearense é vencedor do prêmio mais tradicionais da imprensa brasileira. Com
primeiro lugar na categoria texto e menção honrosa em fotografia, o Diário do
Nordeste consolida a importância do jornalismo investigativo local. “Direito à
cidadania”, título da fotografia produzida pela fotojornalista Fabiane de
Paula, conquistou menção honrosa no 41º Prêmio Vladimir Herzog
O Diário do Nordeste conquistou, ontem, o 41º
Prêmio Herzog de Anistia e Direitos Humanos, premiação mais importante da
imprensa brasileira. O jornal venceu na categoria texto com a série
investigativa sobre os crimes ocorridos em Milagres,
em 2018. O jornal também recebeu a menção honrosa em fotografia com imagem
sobre o direito à moradia. O julgamento ocorreu, ontem, no auditório da Câmara
Municipal de São Paulo e envolveu os mais importantes meios de comunicação do
País.
“Matança da PM em Milagres e a invenção da
resistência” foi uma série investigativa liderada pelo repórter Melquíades
Júnior durante seis meses de apuração, a qual trouxe à tona detalhes de como se
deu a desastrosa ação policial que resultou em 14 mortos, entre eles seis
reféns, no município de Milagres, no Cariri, em dezembro de 2018.
O trabalho coletivo também foi realizado pelos
jornalistas Messias Borges, Kílvia Muniz, Emerson Rodrigues, Creuza Maria
(Pity), os fotojornalistas Thiago Gadelha, João Lucas Rosa e os ilustradores
Benes e Lincoln Sousa.
“Esse prêmio representa um reconhecimento do jornalismo
sério, comprometido com a informação fidedigna, através de um trabalho de
investigação, em que apostamos nesse conteúdo. O Diário do Nordeste, por meio
de seus profissionais, foi em busca da verdadeira história, tentando recuperar
tudo o que aconteceu. O prêmio veio coroar um grande trabalho jornalístico
feito pela imprensa cearense”, destaca Ildefonso Rodrigues, diretor de
Operações do Sistema Verdes Mares.
Ao todo, foram 607 trabalhos inscritos nas
categorias áudio, arte, fotografia, texto, vídeo e multimídia. A reportagem
vitoriosa em texto concorreu com outros três trabalhos: “O meio ambiente como
estorvo”, da Revista Piauí; “Escravos do Ouro”, da Agência Repórter Brasil, e
“145 espiões - o aparelho clandestino de espionagem que enriqueceu a Fiat no
Brasil”, do The Intercept Brasil, que acabou desclassificado por questão
regulamentar. A comissão do Júri foi formada por representantes de 13
entidades, entre as quais a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Instituto Vladimir Herzog e
Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil.
A matança da PM e a invenção da resistência” foi
escolhida como a melhor reportagem por oito dos 11 jurados, que ressaltaram a
investigação de fôlego em meio ao silêncio das forças oficiais de segurança.
“Impressionante. Um trabalho de excelência do jornalismo”, destacou Ricardo
Carvalho, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
“Foi uma grande reportagem coletiva. Todos, sem
exceção, foram indispensáveis nesta apuração. Começou de forma tímida, depois
tomou grandes proporções. O fato é que estamos falando de um problema sério, de
ações que ocorreram em uma madrugada carregada de letalidade, gerando muitas
vítimas comprovadamente inocentes. O nosso trabalho, como jornalistas, é sair
do mero declaratório e exercermos, com esmero, uma apuração rigorosa, apesar de
todos os movimentos pressionando em sentido contrário”, explica Melquíades
Júnior.
Durante seis meses, a equipe mergulhou na apuração,
que envolvia viagens aos municípios de Milagres, Juazeiro do Norte e Brejo
Santo, no Cariri cearense, e Serra Talhada, em Pernambuco. Foram ouvidas mais
de 30 pessoas, entre testemunhas, sobreviventes e investigadores. Três meses
após o início da apuração, a reportagem trouxe a revelação mais importante até
então: todos tinham sido mortos pela Polícia Militar.
A
informação se dava após o cruzamento de várias evidências, perícias e relatos.
“Fomos atrás do próprio depoimento das testemunhas, algumas que ainda não
tinham sido ouvidas pela Polícia. Os relatos traziam enorme riqueza de
detalhes, e fizemos diversos retornos aos locais dos crimes. Depois, os
depoimentos oficiais só vieram confirmar”, lembra Melquíades Júnior.
A repórter Kilvia Muniz
destaca o diferencial da reportagem. “Falar de Milagres é falar daquilo que
deve ser o verdadeiro jornalismo, disposto a incomodar e evidenciar o que
precisa ser revisto na sociedade, além de colocar em evidência as vozes que não
podem ser caladas”, pondera.
Menção honrosa
Com
a fotografia intitulada “Direito à cidadania”, a repórter fotográfica Fabiane
de Paula conquistou a menção honrosa na categoria imagem. Elogiada pelos
jurados, a foto carrega esperança, afeto e luta por direitos na figura de uma
mãe e sua filha. É a segunda vez que o Diário recebe menção honrosa, e primeira
na qual um veículo cearense é premiado na categoria texto.
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