sábado, 12 de outubro de 2019


Diário vence Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos

Pela primeira vez, um meio de comunicação cearense é vencedor do prêmio mais tradicionais da imprensa brasileira. Com primeiro lugar na categoria texto e menção honrosa em fotografia, o Diário do Nordeste consolida a importância do jornalismo investigativo local. “Direito à cidadania”, título da fotografia produzida pela fotojornalista Fabiane de Paula, conquistou menção honrosa no 41º Prêmio Vladimir Herzog



O Diário do Nordeste conquistou, ontem, o 41º Prêmio Herzog de Anistia e Direitos Humanos, premiação mais importante da imprensa brasileira. O jornal venceu na categoria texto com a série investigativa sobre os crimes ocorridos em Milagres, em 2018. O jornal também recebeu a menção honrosa em fotografia com imagem sobre o direito à moradia. O julgamento ocorreu, ontem, no auditório da Câmara Municipal de São Paulo e envolveu os mais importantes meios de comunicação do País.
“Matança da PM em Milagres e a invenção da resistência” foi uma série investigativa liderada pelo repórter Melquíades Júnior durante seis meses de apuração, a qual trouxe à tona detalhes de como se deu a desastrosa ação policial que resultou em 14 mortos, entre eles seis reféns, no município de Milagres, no Cariri, em dezembro de 2018.
O trabalho coletivo também foi realizado pelos jornalistas Messias Borges, Kílvia Muniz, Emerson Rodrigues, Creuza Maria (Pity), os fotojornalistas Thiago Gadelha, João Lucas Rosa e os ilustradores Benes e Lincoln Sousa.
“Esse prêmio representa um reconhecimento do jornalismo sério, comprometido com a informação fidedigna, através de um trabalho de investigação, em que apostamos nesse conteúdo. O Diário do Nordeste, por meio de seus profissionais, foi em busca da verdadeira história, tentando recuperar tudo o que aconteceu. O prêmio veio coroar um grande trabalho jornalístico feito pela imprensa cearense”, destaca Ildefonso Rodrigues, diretor de Operações do Sistema Verdes Mares.
Ao todo, foram 607 trabalhos inscritos nas categorias áudio, arte, fotografia, texto, vídeo e multimídia. A reportagem vitoriosa em texto concorreu com outros três trabalhos: “O meio ambiente como estorvo”, da Revista Piauí; “Escravos do Ouro”, da Agência Repórter Brasil, e “145 espiões - o aparelho clandestino de espionagem que enriqueceu a Fiat no Brasil”, do The Intercept Brasil, que acabou desclassificado por questão regulamentar. A comissão do Júri foi formada por representantes de 13 entidades, entre as quais a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Instituto Vladimir Herzog e Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil.
A matança da PM e a invenção da resistência” foi escolhida como a melhor reportagem por oito dos 11 jurados, que ressaltaram a investigação de fôlego em meio ao silêncio das forças oficiais de segurança. “Impressionante. Um trabalho de excelência do jornalismo”, destacou Ricardo Carvalho, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
“Foi uma grande reportagem coletiva. Todos, sem exceção, foram indispensáveis nesta apuração. Começou de forma tímida, depois tomou grandes proporções. O fato é que estamos falando de um problema sério, de ações que ocorreram em uma madrugada carregada de letalidade, gerando muitas vítimas comprovadamente inocentes. O nosso trabalho, como jornalistas, é sair do mero declaratório e exercermos, com esmero, uma apuração rigorosa, apesar de todos os movimentos pressionando em sentido contrário”, explica Melquíades Júnior.
Durante seis meses, a equipe mergulhou na apuração, que envolvia viagens aos municípios de Milagres, Juazeiro do Norte e Brejo Santo, no Cariri cearense, e Serra Talhada, em Pernambuco. Foram ouvidas mais de 30 pessoas, entre testemunhas, sobreviventes e investigadores. Três meses após o início da apuração, a reportagem trouxe a revelação mais importante até então: todos tinham sido mortos pela Polícia Militar. 
A informação se dava após o cruzamento de várias evidências, perícias e relatos. “Fomos atrás do próprio depoimento das testemunhas, algumas que ainda não tinham sido ouvidas pela Polícia. Os relatos traziam enorme riqueza de detalhes, e fizemos diversos retornos aos locais dos crimes. Depois, os depoimentos oficiais só vieram confirmar”, lembra Melquíades Júnior.
A repórter Kilvia Muniz destaca o diferencial da reportagem. “Falar de Milagres é falar daquilo que deve ser o verdadeiro jornalismo, disposto a incomodar e evidenciar o que precisa ser revisto na sociedade, além de colocar em evidência as vozes que não podem ser caladas”, pondera.
Menção honrosa
Com a fotografia intitulada “Direito à cidadania”, a repórter fotográfica Fabiane de Paula conquistou a menção honrosa na categoria imagem. Elogiada pelos jurados, a foto carrega esperança, afeto e luta por direitos na figura de uma mãe e sua filha. É a segunda vez que o Diário recebe menção honrosa, e primeira na qual um veículo cearense é premiado na categoria texto.


Fonte: Diàriodonordeste

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