Determinação. Se pudéssemos resumir o agricultor Carlito Lima em uma palavra, essa seria a melhor definição para o condutor da Tocha Olímpica que representa a caatinga brasileira. Transformador socioambiental, Carlito não deixou que sua alergia à picada de abelhas o impedisse de realizar o sonho de trabalhar com o animal.
Hoje, lida com uma espécie nativa da caatinga, que não possui ferrão e ajuda famílias no sertão de Crateús a complementarem suas rendas com a produção de um mel raro e nutritivo. Além disso, será um dos representantes cearenses a conduzir a Tocha das Olimpíadas do Rio 2016.
Ele está contente pela oportunidade de conduzir a tocha, mas garante que está ainda mais feliz pelo reconhecimento adquirido em seu espaço de trabalho, por estar fazendo a diferença em sua comunidade. Apesar de cearense, Carlito conduzirá a Tocha Olímpica no dia 10 de junho em Piripiri, no Piauí, durante sua passagem pelo Nordeste.
História que rende um livro
Carlito, 29 anos, nasceu em uma comunidade de Crateús, interior do Ceará e desde muito cedo trabalha como agricultor para ajudar no sustento de sua casa e de sua mãe adotiva.
A história pode parecer mais uma dentre as muitas que acontecem no sertão nordestino, mas Carlito não ficou apenas na agricultura, queria completar a renda da família com algo a mais e como sempre se interessou pela a forma como as abelhas faziam mel, acabou entrando em um curso de manejo de abelhas. A curiosidade permaneceu durante o curso, mas com essa experiência ele descobriu que era alérgico ao ferrão das abelhas tradicionais.
Naquele momento, Carlito precisou abandonar a vontade de trabalhar com as abelhas, mas por pouco tempo. Em 2012, entrou na Associação Caatinga, organização não-governamental que trabalha com ações de conservação ambiental e desenvolvimento social no sertão de Crateús.
Hoje ele ocupa o cargo de administrador do Meliponário, lugar onde maneja abelhas jandaíra, espécie nativa sem ferrão, o que possibilitou a realização do sonho de trabalhar com as abelhas e sem correr o risco de ser picado. “Quando eu descobri que era alérgico, fiquei meio triste, né? Era o que eu gostava de fazer e não poderia trabalhar com aquilo. Ter surgido a oportunidade de trabalhar com essas abelhas que não prejudicam a minha saúde foi como uma nova chance, para mostrar que nem tudo estava perdido”, explica.
Além do manejo, ele trabalha diretamente com as comunidades rurais de Crateús, falando sobre o cuidado com a natureza e como ter uma convivência harmônica com ela, extraindo o que for necessário sem agredi-la. Seu trabalho é um exemplo forte dessa boa relação. A jandaíra é nativa da caatinga e para produzir o mel, que é de alto valor nutritivo e comercial, precisa que a mata esteja em pé. Quanto mais diversidade de flora, mais nutritivo é o mel, criando assim um círculo virtuoso entre o homem e o meio ambiente.
Carlito afirma ser de uma geração que sempre teve preocupação com a natureza. Cresceu em contato com as temáticas ambientais e com as notícias sobre mudanças climáticas e sempre sentiu a necessidade de contribuir com o lugar que vive. Hoje tenta mudar a percepção das pessoas que o cercam sobre a natureza. Acredita que está conseguindo. “A jandaíra é uma polinizadora natural, é fácil de cuidar”, diz ele
DN
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